No dia 22 do mês de Março último, o ministro da Saúde, Armindo Tiago, anunciou o primeiro caso de COVID-19 no país. No dia seguinte (23.03), o Executivo não perdeu o tempo e reuniu com parceiros internacionais para anunciar que estimou em 700 milhões de dólares norte-americanos, os impactos que a doença poderá causar em Moçambique.
Entretanto, volvidas três semanas, conforme escreve a Carta de Moçambique (clique aqui para ler), o grupo de doadores que coordena com o Ministério da Saúde, MISAU, já procede com o levantamento das necessidades de emergência que podem ser causadas pela pandemia, de modo a fazer a aquisição dos bens necessários. Ou seja, os parceiros não vão dar “dinheiro vivo” ao Executivo de Nyusi. O apoio será em espécie, o que faz cair por terra o “sonho milionário” do Executivo de Filipe Nyusi.
Não obstante, em reacção ao facto, Adriano Nuvunga, director para o Centro de Democracia e Desenvolvimento, organização que por sua vez dirige o Fórum de Monitoria do Orçamento, FMO, disse ao “O Cotidiano” esta terça-feira (18.04), que “quando uma parceria chega a esse nível profundo de desconfiança, significa que as coisas não estão bem e quem acaba sofrendo é o povo.”
Para o docente universitário em ciências políticas, a atitude dos doadores “significa, por outro lado, a incapacidade de o Governo moçambicano se reorganizar para se recredibilizar”. “Os parceiros querem ajudar mas não confiam no Governo”, entende.
Nuvunga olha para os recentes escândalos financeiros promovidos por figuras do Governo como os factores que afastam a confiança da comunidade internacional. “O que os parceiros não querem é dar dinheiro para que depois eles roubem. E de facto podem roubar”, lamenta o director do CDD, sublinhando, por sua vez, que deve-se estar feliz porque assim haverá o material necessário, “pois mesmo a classe Executiva necessita de hospitais apetrechados”, uma vez que já não podem ir ao exterior para o tratamento”.
A coerência dos doadores
Já para o economista João Mosca, que também reagiu ao “O Cotidiano”, a negação à doação em dinheiro “faz parte da decisão dos doadores em não abrir qualquer excepção no apoio directo ao orçamento, o que também está dependente dos esclarecimentos que o Governo está para dar sobre as dívidas ocultas”.
“Esta é uma oportunidade de os doadores actuarem directamente no terreno, com resultados concretos”, sublinha Mosca, ressaltando como um outro problema, a mania de O Governo “não apresentar valores específicos e concretos para cada objectivo que tem apresentado aos doadores”, afirma, frisando que “os doadores não dão dinheiro nesses moldes”.
Na notícia veiculada pela Carta de Moçambique, consta que na lista de necessidades traçada pelos doadores está prevista a aquisição de 120 ventiladores portáteis e 20 fixos, com custos de 1.550.000 dólares para os fixos, e 323 mil dólares para os portáteis. Os valores estão abaixo da estimativa apresentada aos doadores, pelo Ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, durante a apresentação do possível impacto económico que a pandemia poderá causar ao país.
A Carta refere ainda, sobre a previsão dos doadores adquirirem diverso equipamento médico em apoio a Moçambique. O custo total poderá ser aproximado a 48 milhões de dólares.
Entre os principais doadores constam o Banco Mundial, USAID e o Fundo Global.